Quando alguém nos pede para dizer uma cor é possível que a primeira que venha à cabeça seja “vermelho”. Isso tem explicação: na psicologia das cores o vermelho é a cor atribuída à vida, paixão e ao poder. Historicamente, depois que diferenciou o claro do escuro, o ser humano atribuiu aos tons terrosos o nome de “vermelho”, tendo como coincidência etimológica seus sinônimos como “colorado”, no Espanhol. Na língua portuguesa coloquial se alguém está com o rosto avermelhado, diz que esta pessoa está “corada”.
Vermelho é, portanto, uma das três cores primárias, seja por pigmentos ou de luz. Ao observar a decomposição da luz branca no prisma, as sete cores aparentes foram desenhadas em círculo por Isaac Newton, ainda na Idade Moderna, de acordo com sua porcentagem no arco-íris. Eva Heller diz, em seu livro Psicologia das Cores, que o vermelho se destaca na paisagem tanto de dia quanto à noite porque é a luz “menos natural”, encontrada pontualmente na fauna e flora. Utilizar a luz vermelha significa “atenção”, como exemplo dos semáforos em cruzamentos e no painel dos carros.
Já enquanto pigmento, ou “tinta”, estudos de círculo cromático foram feitos por Goethe, desta vez equiparando o tamanho das sete cores, apresentando como análogas ao vermelho o laranja e o violeta (na psicologia das cores, roxo). A história dos pigmentos é atrelada às diferentes culturas, que com seu conhecimento aproveitaram riquezas naturais de seus territórios. No Egito, o óxido de ferro foi descoberto como ótimo pigmento vermelho para as cerâmicas ainda na antiguidade, assim como o cinábrio – combinação de enxofre e mercúrio descoberta por alquimistas. Já na América do Sul pré-colombiana, as cochonilhas amassadas tingiam os tecidos, assim como os quermes, pequenos insetos amarronzados que dão origem ao carmim, tinham o mesmo destino na Europa, sobretudo na França. Estes eram largamente utilizados até o advento dos pigmentos sintéticos, como o cádmio, o vermelho artístico mais luminoso.
Já nas artes, o pintor Piet Mondrian coloca o vermelho como cor preponderante em seus quadros de “composição” produzidos no período entreguerras mundiais, adiantando o sentimento de que o vermelho seria símbolo da alegria de viver renovada com o fim da 2ª Guerra Mundial. Logo em seguida veio a era do consumo, e o vermelho, a cor dos anúncios publicitários, se converteu em símbolo de bem-estar. Isso foi muito utilizado para publicidade e propaganda, de forma com que muitas empresas, principalmente do ramo alimentício, utilizassem o vermelho em logomarcas e lojas com técnicas de marketing e psicologia das cores.
Para a psicologia das cores, o verde é a cor da vida vegetal, sendo o vermelho a cor simbólica da vida animal. A natureza apresenta o verde em exuberância, mesmo em diferentes tons e o vermelho aparece em destaque, como o vermelho púrpura do coração do cacho de bananeira, despontando entre as folhas verdes. Por ser análogo ao laranja e violeta, na psicologia das cores, o vermelho é muito bem utilizado em composições paisagísticas como ponto de cor, assim como em diversas tipologias de projeto e ambientes.
Neste artigo falaremos sobre três principais tópicos, que versam sobre o que é importante saber sobre psicologia das cores, focando o vermelho para incrementar seus projetos!
Aproveite a leitura!
Qual o significado da cor vermelha na psicologia das cores
Além de remontar à memória, como dito antes, na psicologia das cores o vermelho se refere simbolicamente ao fogo e ao sangue, por serem essenciais da vida humana. Em todas as culturas, dos babilônios aos esquimós, lhe atribuem significado existencial: o que é vermelho é forte, corajoso e atrativo. Sendo a cor dominante das atitudes positivas em relação à vida, o vermelho pode ser utilizado sempre que o conceito for atrelado a esse tipo de emoção - hospitais utilizam símbolos vermelhos e tons saturados da cor, como variantes do azul e verde.
Há estudos que apontam que nuances de vermelho se complementam como os opostos “masculino” e “feminino”. O vermelho claro simboliza o coração ativo e o vermelho escuro simboliza o ventre, o feminino. Por isso, na psicologia das cores o vermelho escuro produz um efeito de tranquilidade, por estar junto ao preto, como a noite.
O corpo que vibra com o coração também ama e sente paixão e a cor condizente é o vermelho como fogo, o calor, energia (na psicologia das cores, laranja), paixão, desejo e fogo – com a representação de uma cabeça de fósforo como sendo vermelha. Por analogia, o fogo dissipa o frio (na psicologia das cores o azul) e as forças da escuridão, o preto.
Até a época da Revolução Francesa, existiam códigos de vestimenta que determinavam o que era condizente para cada estrato social, das cores aos tecidos e peças de vestuário e ornamentação residencial. Valia a lei: cores luminosas para os ricos, cores opacas para os pobres. A exemplo disso, em sua coroação Luís XIV utilizou vestimenta toda branca, vibrante, com saltos vermelhos: somente monarcas e a nobreza poderia utilizar o vermelho. Desta forma, a cor vermelha foi atrelada ao poder, sendo empregada em artes gráficas, brasão de famílias, tecidos de vestimentas, ornamentação de palácios e edifícios institucionais para distingui-los dos demais, e não como designação arbitrária.
Se no ocidente o vermelho é atribuído ao poder e vida, a felicidade na China é representada pelo vermelho. É por isso que os restaurantes chineses são, em sua maioria, plenamente decorados em vermelho e as crianças são vestidas nas cores vermelho, amarelo e azul por designarem, também, o sentimento de felicidade.
Objetos alusivos a animais são ótimos pontos de cor a serem utilizados nos projetos. Papéis de parede e pinturas de murais com animais de coloração avermelhada – joaninha, arara e demais pássaros – podem ser aplicados em quartos de criança ou ambientes que sejam destinados a elas, quando se pretende criar ambiência positiva e ativa.
Para finalizar este primeiro tópico, na psicologia das cores, vermelho é alusivo ao paladar doce, criando a conexão entre a cor e a sensação prazerosa de se deliciar com algo que se goste, como um sorvete de morango. Isso é o que buscamos ao conversar com clientes para determinarmos quais cores vão ser utilizadas nos projetos, certos hábitos ou comentários norteiam arquitetos e urbanistas na síntese do conceito e partido projetuais, e a seguir são feitas algumas sugestões de aplicação da cor vermelha no projeto.
Onde aplicar a cor vermelha no projeto
A escolha das cores deve estar junto do desenvolvimento do partido projetual, que respeita o conceito e as necessidades do cliente a partir de leituras da área, sem restrição de aplicação ao passo que implantar uma casa vermelha em um bairro já densamente construído é diferente do que em área recém-loteada.
Como visto acima, na psicologia das cores o vermelho pode causar diferentes sentimentos e efeitos. Ao projetar, é preciso compreender qual a necessidade de cada cliente ou como usuários se relacionam aos sentimentos provocados pelo uso do vermelho, não esquecendo que as nuances da cor ampliam ou reduzem sua empregabilidade. No caso de edificação em área já densa, utilizar o vermelho causa efeito de atração para o local: excelente para comércios ou instituições, mas inadequado para residências, que são locais de descanso e tranquilidade, na psicologia das cores, utilizando verde.
As nuances, ou os tons de vermelho podem ser encontrados de forma natural em diferentes materiais, como a terra e suas formas trabalhadas de cerâmica, tijolos e pigmentos para tingir tecidos de vestimentas ou ornamentação de interiores, como estofados. Os teatros de ópera, por exemplo, são decorados em vermelho, com poltronas e paredes plenamente atapetadas na cor.
As decorações de tijolos aparentes, avermelhados, criam ambiência aconchegante, e podem ser utilizadas em áreas sociais ou íntimas de casas, bem como em cafeterias e livrarias. No entanto, uma lanchonete pintada com paredes vermelhas pode gerar raiva, pois vermelho em demasia atrapalha a percepção das cores dos alimentos.
Para explicar esses sentimentos negativos, Heller sugere o exercício de nos imaginarmos ao adentrar o departamento financeiro de uma repartição pública que tenha um escritório totalmente vermelho. Seria um choque. Quem explora esse sentimento é o artista brasileiro Cildo Meireles, em sua obra “Desvio para o Vermelho”, em galeria do Inhotim. De maneira moderna, pode-se dizer que os sentimentos negativos são atrelados ao desvio da funcionalidade da cor, quando ela não é empregada de forma natural. Na psicologia das cores, azul seria a cor adequada para o tal escritório.
Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro de grande expressão, utiliza muito bem as cores primárias em suas obras. Em duas delas, o auditório do Parque Ibirapuera em São Paulo e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói são incrementados por elementos vermelhos: a marquise da entrada, triunfal e marcante e a rampa de acesso do MAC, pintada de vermelho, como um belo e curvo tapete convidando a subir vagarosamente contemplando a paisagem, o mar.
Ele sempre tensiona com a cor branca, já Lina Bo Bardi, também arquiteta modernista, priorizava o concreto aparente, como faz no Museu de Arte de São Paulo (MASP) – passava a imagem da instituição sólida, o partido projetual materializando o conceito.
Atualmente o MASP é reconhecido por suas vigas de sustentação vermelho-vivo, mas por décadas elas não eram coloridas. A aplicação de uma cor marcante para destacar a estrutura do edifício se deu por necessidade de realizar a vedação daquele concreto, poroso, que gerava vazamentos nas salas de exposição. O vermelho já estava indicado em um croqui feito pela arquiteta no final da década de 1950.
Assim, em termos visuais, o vermelho sempre se destaca. No caso do Auditório do Ibirapuera, em oposição ao branco do edifício e ao azul do céu. Na psicologia das cores, o vermelho não é oposto ao verde, como no círculo cromático, mas sim ao azul. O vermelho é, como visto, a cor da extroversão. O vermelho fica sempre em primeiro plano. Nesse contexto, o polo oposto ao vermelho é sempre o azul. O azul é frio, distante, silêncio, como o mar. O azul é o imaterial, como o céu.
Deste modo, nos bares, são comuns as salas de estar vermelhas, mais aconchegantes que as azuis, que assim como o prazer atrelado ao provar um sorvete de morango, podem ser desejadas para reprodução em diferentes ambientes por clientes. Nos quartos de crianças ou áreas de circulação de muitas pessoas sugere-se, por meio da psicologia das cores, utilizar azul, junto ao branco. Para sinalizar algo ou passar mensagem de advertência, como em letreiros de hotéis, o vermelho terá destaque e deve ser utilizado. A iluminação quente também é algo a ser levado em consideração nos projetos, na psicologia das cores, amarelo é também atrelado ao fogo e a energia.
No Brasil as técnicas de construção com terra – de tons vermelhos e alaranjados - foram largamente empregadas por indígenas antes da chegada dos europeus e propagadas pelas populações para realizar edificações. As técnicas de taipa de mão e adobe, bem como a produção de tijolos cozidos é a base da construção civil entendida como “convencional” no país. Atualmente há o retorno do emprego de construção de terra crua, algo ambientalmente recomendado e que pode ser explorado em composição a outros elementos da paisagem. Materiais com tons terrosos como vernizes e cera vermelhas podem ser empregados para revestimentos externos, assim como no exemplo abaixo.
Revestimentos podem ser de cerâmica pintada, ladrilho hidráulico, porcelanato, pastilhas de vidro, até tintas! São muitas as possibilidades do mercado e é sempre importante verificar a resistência do material à abrasão. A combinação entre diferentes revestimentos é bastante contemporânea e pode ser interessante para quebrar o uso da cor monolítica. Utilizar tinta vermelha junto a ladrilhos hidráulicos com detalhes vermelhos é uma sugestão para restaurantes e áreas de lazer residenciais, assim como a utilização de cores análogas causa efeito harmônico segundo a psicologia das cores, experimente o roxo com vermelho.
Exemplos de projetos com a cor vermelha
Além dos projetos de Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi citados acima, que destacam o vermelho em suas diversas formas e implantação, são apresentados exemplos de projetos com a cor vermelha desde a escala macro (paisagismo) a micro (interiores residencial).
A paisagem é composta por elementos físicos, biológicos e antrópicos que se relacionam de diferentes modos. Ao projetar com a paisagem esses elementos são manipulados de tal forma a passarem mensagens de contemplação, harmonia, domínio, entre outros princípios. A utilização do vermelho para composição da paisagem meio dos elementos naturais, como a escolha da vegetação - folhas em tons de verde, amarelo, laranja com flores vermelhas - e também estruturas projetadas e executadas, como o mobiliário circular apresentado acima, que se destaca no local implantado, mas se encaixa de forma a criar espaços de convívio entre pessoas, ponto importante da psicologia das cores.
Em locais sociais como cozinha é recomendado que sejam utilizadas cores e materiais estratégicos. Para a área de cocção e preparo dos alimentos os materiais devem resistir tanto à abrasão de objetos cortantes, quanto ao calor e à água. Ainda, como área de tarefa que exige concentração, o vermelho deve ser usado de forma a não dominar o ambiente, mas deixa-lo agradável para média permanência. O calor das chamas remete ao vermelho, segundo a psicologia das cores, apesar de serem azuis. No ambiente abaixo, de uma cozinha residencial, há elementos interessantes a serem destacados que podem servir de inspiração:
A parede é revestida com peças cerâmicas brancas, que passam a sensação de limpeza e difundem a luz do ambiente. Os armários e estrutura de torre quente são de madeira pinus, os armários suspensos em tom natural amarronzado e os armários abaixo da pia são pintados de vermelho escuro (lembrando que na psicologia das cores o vermelho escuro é relacionado ao feminino) assim como a torre quente, criando um plano horizontal, encimada por uma planta jiboia esverdeada criando agradável contraste cromático. Todos armários mantém a mesma linguagem, são retificados e tem a circunferência vazada como ponto de abertura. Elementos-chave da cozinha como facas e temperos foram posicionados à mão.
Do mesmo modo que na cozinha sugere-se tons mais escuros, para banheiros, há na psicologia das cores vermelhos que servirão às necessidades de acordo com a tipologia de projeto. Para banheiros residenciais as pastilhas e cubas vermelho-vivo já estão em desuso, apesar de insistentes nos mecanismos de busca. Opte por tons esbranquiçados e com predominância das cores análogas (relembrando, amarelo, laranja e roxo na psicologia das cores). Pinturas e papéis de parede, junto aos metais pretos são bem contemporâneos e funcionam bem para lavabos e banheiros de cafés e bares.
Busque elementos que criem harmonia, como o tom da madeira, ou a cor dos metais. Abaixo o exemplo de estrutura divisória empregada em escritório, o tom de vermelho é complementar ao da madeira. Ainda, as perfurações criam relação de permeabilidade, mas separam o ambiente com este ponto de cor.
Exemplos de divisórias impactantes em escritórios. Logo abaixo o escritório em planta livre, com divisórias vermelhas perfuradas. Em seguida, com estrutura vermelha translúcida, permeando com a luz que se torna vermelha ao percorrer os ambientes.
Caso queira ver soluções mais ousadas com revestimento de pastilhas, procure por piscinas vermelhas em hotéis e na casa de famosos. No Brasil, o hotel Unique em São Paulo tem sua piscina vermelha na cobertura e faz muito sucesso. Lá fora, na Tailândia, o The Library também aposta na piscina vermelha, que contrasta com o mar ao fundo. Novamente, uma boa iluminação, desta vez com cores frias (segundo a psicologia das cores, azul) para manter o tom avermelhado dos materiais.
As possibilidades de combinação de cores com vermelho não cessam, e para a arquitetura atrelada a psicologia das cores o importante é a sensação que se deseja passar com o projeto. Ao longo da história da humanidade luz, sombra, pigmentos e diversos materiais foram combinados para criar espaços impactantes ou acolhedores. Lembre-se, o vermelho é a cor do poder, da vida e nunca fica em segundo plano. Faça bom uso do que foi visto nesse artigo de psicologia das cores sobre vermelho, experimente-o!
Até a próxima,
Equipe Vobi.
Referências:
HELLER, Eva. Psicologia das Cores. Olhares: São Paulo, 2021.
MIYOSHI, Alex. O edifício do Masp como sujeito de estudo. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 084.02, Vitruvius, maio 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.084/245>.
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