Psicologia das Cores azul
May 3, 2023

Psicologia das Cores: azul da calmaria à fúria, como o mar

Azul é uma das cores elementares, que na Teoria das Cores são chamadas de “primárias” ou “básicas” porque não podem ser obtidas pela mistura de outras cores. Enquanto pigmentos, as cores primárias são azul, amarelo e vermelho.

Ao continuar a leitura você saberá como utilizar essa cor tão querida e importante quanto o azul em seus projetos. Por se tratar de artigo de Psicologia das Cores, o azul é destacado nos seguintes pontos:

Aproveite a leitura!

A primeira fotografia tirada da esfera terrestre inteira foi feita a partir de grandes distâncias pela tripulação da Apollo 17. Desde então, a Terra passou a ser chamada de “Planeta Azul”. Cientificamente, o azul observado é gerado pela reprodução infinita de qualquer material transparente. Na Psicologia das cores, o azul é a cor das dimensões ilimitadas, como o céu e o mar. O azul é sinônimo de grandeza.

Também há questões culturais sazonais ligadas às cores. Expressões linguísticas relacionadas a cor azul são muitas. No Brasil, quando se “fica azul” é sinônimo de ficar muito assustado ou perturbado com alguma coisa ou ficar “azul” de fome. Já quando um francês diz “j’en reste bleu”, está perplexo, e quando exclama “parbleu!” tem algo inexplicável acontecendo. Além da expressão relacionada a tristeza, “blue note”, no inglês estadunidense, que originou o ritmo musical do Blues. Nos costumes ingleses exigem que as noivas portem “algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul” no dia do casamento, como ideia de fidelidade e perpetuação de sentimentos bons.

Em outra perspectiva, a religiosa, o azul é de grande importância pois os deuses vivem no Céu. Azul é a cor que os rodeia e por isso, em muitas religiões, o azul é a cor dos deuses ou de Deus-Pai. As máscaras douradas dos faraós têm cabelos e barba azuis. É o azul da pedra sagrada e semi preciosa chamada lápis-lazúli. O deus egípcio Amon, também Vishnu, deus hindu que aparece em sua forma humana como Krishna, tem a pele azul, como sinal de sua origem celeste.

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Pintura de Krishna, harmônica em tons que remetem a natureza, com detalhe para o espelho d’água, fauna e flora. Fonte: Wikimedia.

Em termos artísticos, o grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), fundado em 1911 por Franz Marc, Wassily Kandinsky, Alfred Kubin e Gabriele Münter, que revolucionou a arte moderna, ganhou esse nome porque seus fundadores gostavam de pintar cavalos, e sua cor predileta era o azul, sendo um dos motivos que pintavam. 

Henri Matisse, pintor fauvista que explorava a potência das cores primárias (na Teoria das Cores e psicologia das cores, vermelho e amarelo, além do azul), pintava nus, objetos, até tomates na cor azul. Já na segunda metade do século XX, Yves Klein pintava quadros totalmente azuis, chegou a patentear o tom que utilizava (azul ultramarino sintético) como “azul Yves-Klein internacional”. Para Klein, diz Heller, “o azul era a cor das possibilidades ilimitadas”.

Qual o significado da cor azul na psicologia das cores

Quando surgiu a simbologia das cores, que até hoje determina a concepção que temos delas, os pigmentos ainda não podiam ser produzidos sinteticamente, e a diferença de preços era muito mais dramática. O preço de uma cor exercia influência decisiva sobre seu significado. Segundo a Psicologia das cores, azul é a cor da simpatia, da harmonia e da fidelidade, apesar de ser fria e distante no círculo cromático. Por reunir essas características, é, segundo pesquisa realizada pela psicóloga Eva Heller, a cor mais popular e prestigiada. Por sua vez, o azul dos pintores era caro e nobre, o azul dos tintureiros barato e ordinário, informando que o azul é uma cor cuja importância foi sempre determinada por seu preço.

Apesar disso, o significado mais importante do azul está no simbolismo das cores, nos sentimentos que vinculamos ao azul. O azul é a cor de todas as características boas que se afirmam no decorrer do tempo, de todos os sentimentos bons que estão sob o domínio da compreensão entre seres. 

“Portanto, não é de se estranhar que o azul seja uma cor tão popular.”

Heller continua:

Quando associamos sentimentos a cores, pensamos em contextos muito mais amplos. O azul é o céu – portanto azul é também a cor do divino, a cor eterna. A experiência constantemente vivida fez com que o azul fosse a cor que pertence a todos, a cor que queremos que permaneça sempre imutável para todos, algo que deve durar para sempre. Ao contrário do divinal azul, na psicologia das cores, o verde é terrestre, é a cor da natureza. No acorde azul-verde, o céu e a terra se unem. Com o verde, o azul divino se torna o azul humano.

O azul é a cor de todas as ideias cujas realizações se encontram distantes. No violeta, está simbolizado o lado irreal da fantasia – o fantástico (na Psicologia das Cores, roxo). Porém, outra cor quente (na psicologia das cores, Laranja) pode entrar como a terceira cor da fantasia, simboliza o prazer das ideias malucas. Na Psicologia das cores, Azul, violeta e laranja, são o acorde da fantasia.

Pela simbologia antiga, o azul era a cor do feminino. Ele é plácido, passivo, introvertido; no simbolismo ele pertence à água, que também é um atributo feminino. No cristianismo, As cores simbólicas da pintura cristã: azul para Maria, vermelho para Jesus, púrpura-violeta para Deus-Pai, verde para o Espírito Santo.

Em virtude de as cúpulas das igrejas simbolizarem a abóbada celeste, elas costumavam ser pintadas de azul. Assim como, no barroco brasileiro, é comum o teto das igrejas serem pintados de azul, simbolizando o céu.

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Nossa Senhora cercada de anjos músicos, de Mestre Ataíde, no teto da igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. Fonte: Wikimedia.

Não muito distante dali, outra localidade icônica é a Igreja de São Francisco, localizada na lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, tem partido e azulejaria de Cândido Portinari, que ilustra a capa deste artigo, em recorte.

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Fonte: ArchTrends.

Em relação a roupas, o azul também domina. Vamos entender o porquê a partir da explicação de Heller. 

Com o barateamento do pigmento índigo (na psicologia das cores, azul), a indumentária de trabalho passou a ser mundialmente tingida com índigo, tom escuro que disfarça possíveis manchas. Na América e na Inglaterra, os operários são chamados de trabalhadores de colarinho azul, “blue colar”, em oposição aos que usam camisa branca e gravata, ou seja, os de funções burocráticas, “white colar”, causando grande efeito psicológico sobre o ato de trabalhar. Na China os trabalhadores são chamados de “formigas azuis” porque desde tempos ancestrais o índigo era cultivado em seu país e, no campo, homens e mulheres vestiam camisa e calças azuis enquanto uniforme.

Em 1850, o bávaro Levi-Strauss inventou os jeans, tecido resistente, tingido com índigo como traje de trabalho para os mineradores de ouro e os cowboys. Seu nome provém de bleu de Genes (azul de Gênova), chamados assim pelos marinheiros genoveses que importavam o índigo. Bleu de Genes se americanizou para blue jeans

Tradicionalmente, carteiros, guardas civis, condutores de ônibus, fiscais de ferrovia e guardas em geral – em muitos países também os policiais – trajam azul. O limitado colorido da atual moda para homens faz do azul – seguido pelo cinza – a cor preferida para ternos.

Depois de ver a amplitude dos significados da cor azul na psicologia das cores e a utilização da cor em diferentes localidades – de edificações, passando pelos jardins e finalizando nas roupas – são elencadas dicas de onde aplicar a cor azul no projeto. 

Onde aplicar a cor azul no projeto

A perspectiva produz a ilusão do espaço. As cores podem também produzir perspectiva. Ao se observar uma composição cromática composta por azul, verde e vermelho, o vermelho vai aparecer em primeiro plano, o azul será o mais afastado e distante. Na Psicologia das cores, vermelho é quente como o fogo, mas a temperatura mais alta da substância é de cor azul.

Todas as cores à distância se tornam mais tristes e azuladas, pois são recobertas por camadas de ar. Uma graduação de azul intenso para um azul mais fraco também dá uma sensação de perspectiva: o azul-claro em termos ópticos ficará mais distante. E se tiver uma tempestade a ser representada, esses tons serão acrescidos de preto. Quanto mais graduações estiverem à vista no céu ou no mar, indo do azul-claro ao azul mais escuro, maior a impressão que se tem de poder ver mais longe. A esses efeitos os pintores chamam de “perspectiva aérea”, o que pode ser reproduzido com papéis de parede ou tinta em residências.

La Chascona, casa do escritor Pablo Neruda, em Santiago do Chile. Utilização de pintura em alvenaria e madeira, como é costume das construções da cidade. Por ser implantada na costa de um morro, as pedras também compõem o desenho das fachadas, criando harmonia por contraposição entre o azul e tons terrosos, que na Psicologia das cores, amarelo e laranja, também das pedras avermelhadas, significam oposição e vibração. A cor azul claro permanece empregada, por ser o mesmo tom da original, resultado da pesquisa de psicologia das cores e marketing da mantenedora. 

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Fachada do acesso principal, escadaria e diferentes tons de pedra em revestimentos. Fonte: Fundação Pablo Neruda.

O amarelo, cor primária, contrasta com o azul escolhido para a cobertura da fachada de madeira, já em pavimento superior.

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Fonte: Fundação Pablo Neruda.

Em termos paisagísticos, pode-se compor ambientes com o céu ou espelhos d’água. Porém, o efeito psicológico do azul adquiriu um simbolismo universal, como a paz. O azul é também a cor da fidelidade. Do mesmo modo, safira é a pedra que representa a fidelidade, reforçando a psicologia das cores, azul. A fidelidade não é uma virtude que se coloca logo em evidência, assim como são pouco perceptíveis as flores azuis que simbolizam a fidelidade, os miosótis, as lobélias e as madressilvas.

Miosótis no vaso, para varandas de apartamento. Também é muito utilizada em parques, cidades, canteiros, jardins de prédios antigos, casas, pois ela possui uma cor muito bonita, chamativa e agradável e pode ser utilizada para formar corredores que limitam passagens de pedestres ou separam diferentes vegetações.

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Fonte: Mundo Ecologia.

Dos 111 tons de Azul conhecidos, o Azul turquesa é um dos mais aplicados na atualidade. 

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Toca Turquesa, com portas e telhas no tom. Fonte: Toca Turquesa, página do Facebook.

A primeira tiny house do Brasil, no tom azul escuro. Na psicologia das cores, amarelo e azul são cores atreladas ao sentimento de simpatia, condizente com o movimento minimalista.

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Fonte: Pés Descalços.

O azul, em ambientes internos, dá a impressão de “deixar o frio entrar”. Caso esse seja o partido projetual, como em exemplos de projeto no final deste artigo, será bem empregado. Enquanto questão de conforto ambiental, a impressão de frio pode ajudar a criar sensação de frescor nos países quentes. Nas residências, utilizar o azul pode ser interessante por seu efeito calmante. É uma cor que se adequa bem aos dormitórios.

A seguir são apresentados exemplos de projetos que, segundo a Psicologia das Cores, azul, relacionado com outras cores, ganham diferentes significados de acordo com o conceito empregado.

Exemplos de projetos com a cor azul

Os detalhes em azul fazem a diferença neste edifício do construtor e projetista – sem diploma de arquiteto – João Artacho, chamado Planalto. Em contraposição aos tons quentes (como visto, há oposição na psicologia das cores entre azul e vermelho), o azul se destaca no guarda-corpo das varandas, esquadrias de portas e janelas, nas colunas em evidência e na cobertura, utilizado na casa de máquinas dos elevadores e marquise que circunda o edifício.

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Perspectiva inferior, a monumentalidade da edificação. Fonte: Refúgios Urbanos.
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Platibanda: o detalhe da cor nos planos verticais, criação de luz e sombra ao longo do dia na forma orgânica. Fonte: Refúgios Urbanos.

De acordo com Heller, azul-verde-branco é o acorde cromático da recreação. Na Psicologia das Cores, o azul é recreação passiva ao passo que o verde é ócio ativo e o branco simboliza a ausência de todas as cores, de toda excitação. Por isso foram as cores escolhidas para os elementos da fachada de uma escola em Alto de Pinheiros, pelas arquitetas do escritório Base Urbana.

Azul, verde e vidro aplicados em fachada institucional. A base é alaranjada como a terra, cor complementar ao azul, reforçando a complementariedade na psicologia das cores, entre laranja e azul.

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Fonte: ArchDaily, foto de Pedro Vannucchi.

É do mesmo escritório o projeto de Habitação de Interesse Social do Córrego do Sapé, também em São Paulo. Nele, as paredes externas - incluindo guarda-corpos - foram pintadas com as cores primárias, uma em cada bloco, exprimindo diferentes emoções, segundo a Psicologia das cores.

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Azul, cor primária escolhida para pintura do bloco de apartamentos. Fonte: ArchDaily.

No detalhe, harmonia entre o cinza do concreto nas varandas, as esquadrias brancas e o azul claro, tom escolhido.

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Fonte: ArchDaily.

Em ambientes internos residenciais, a aplicação de pontos de cor, o azul sobre o branco em consonância com o preto e cinza também funciona de forma harmônica. Na Psicologia das Cores, azul juntamente ao preto revela simpatia e harmonia, quando na presença de branco. O quadro na parede traz o “azul Yves-Klein internacional”.

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Fonte: Arterama.

Tem crianças em casa? Que tal um sofá azul, circular e superconfortável? Essa foi a proposta do escritório HAO Design para esse apartamento em Taiwan.

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Fonte: ArchDaily

Apesar de muito utilizado como ponto de cor, neste projeto o azul no tom acinzentado, recobre o elemento central, monolítico, que divide espaços. 

Psicologia das Cores azul
Fonte: ArchDaily.

Empregado em tantas situações distintas – residências uni e multifamiliares, escolas, museus e até igrejas! Na Psicologia das cores, azul é a cor da simpatia, que representa paz, quando acrescida do branco. Os projetos apresentados mostram, além da versatilidade do pigmento, a possibilidade de brincar com os reflexos no vidro e em espelhos d’água, ou em manchas de vegetação. 

Utilize azul em seus projetos. Se é popular é porque tem grande aceitação, não tem erro!

Até a próxima,

Equipe Vobi

Referências:

ArchDaily

Fundação Pablo Neruda (https://fundacionneruda.org/en/museums-houses/la-chascona-museum-house/)

HELLER, Eva. Psicologia das Cores. Olhares: São Paulo, 2021.

Refúgios Urbanos

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