Psicologia das cores verde
May 3, 2023

Psicologia das cores: verde, a quintessência da vida

Verde é vida. A cor virou símbolo de humanidade, do que é vivo e do que ainda virá, a cor da esperança. O verde é mais do que uma cor, o verde é a quintessência da natureza, em sua significação ampliado, a substância etérea que liga água, terra, fogo e ar.

Na psicologia das cores, verde representa a ideologia da consciência ambiental, a esperança de vivermos em um mundo melhor. Amor à natureza – fauna e flora – é essencial na construção desse novo mundo, junto à promoção do respeito às culturas humanas. A ideologia ambientalista já foi relacionada a recusa a uma sociedade dominada pela tecnologia, hoje entende-se que é algo que precisa ser equilibrado. Não se deve explorar os recursos naturais em demasia, nem condenar o desenvolvimento tecnológico em sua totalidade.

Portanto, em três sessões apontaremos possibilidades do emprego da cor verde em projetos para além das folhagens naturais, afinal, na psicologia das cores, o verde é cor da fertilidade, da esperança e, ainda, da burguesia.

Aproveite a leitura!

Presente na natureza, principalmente no reino vegetal, o verde é a cor dos pigmentos da maioria das folhagens, da clorofila. No círculo cromático, o verde é uma cor secundária, pois é resultado da mistura entre azul e amarelo, primárias. Em sua organização formal, as cores que se posicionam  diante das outras são chamadas complementares. Diante de cada uma das três cores primárias – azul, vermelho e amarelo – encontra-se uma cor secundária, portanto: laranja, verde e violeta. Desta forma, os pares de cores complementares, de acordo com o círculo cromático, são constituídos por azul e laranja, vermelho e verde e, por fim, amarelo e violeta. 

Para a realização de composição de cores deve-se lembrar que verde e vermelho são opostos complementares porque, na realidade, vermelho está em oposição ao azul e ao amarelo simultaneamente. No campo da psicologia das cores, vermelho é também relacionado à vida, por conta do sangue que a impulsiona nos animais, e é uma cor quente. Por ser uma cor secundária, o verde é a cor intermediária nas mais diversas dimensões: o vermelho é quente, o azul é frio e a temperatura do verde é agradável.

Em termos de luz, a cor verde é encontrada diariamente nas cidades em letreiros de informação. Ao significar “siga”, nos semáforos, a cor verde evoca a tranquilidade. Ao ver ícones da cor verde em aplicativos ou equipamentos sabe-se que a situação está correta ou a tarefa foi cumprida.

Psicologia das cores verde
Vista aérea do Modernist Garden, projeto de Robert Jungles, aprendiz de Roberto Burle Marx. Verde, vermelho rondam o passeio em branco e preto. Fonte: ArchDaily.

Enquanto cor abundante na natureza, as palavras para verde e amarelo surgem logo depois do preto e branco (ou claro e escuro) e o vermelho – pois o verde e o amarelo descrevem coisas que podemos comer e a natureza que nos ronda. Na psicologia das cores, verde é a cor da vida vegetal, e se opõe ao vermelho, cor simbólica da vida animal. 

As expressões culturais são várias em relação à cor verde. Como exemplo, pessoas podem ficar “verdes de inveja”, no sentido figurado, ou por sentir enjoos, no sentido literal. 

Segundo Eva Heller, um provérbio chinês diz: “O verde sai do azul e o ultrapassa”, ao significar que um bom aluno pode chegar a ser melhor que seu professor. Nessa linha de pensamento, o verde é considerado mais importante que o azul, pois ele contém amarelo.

A vitalidade se faz presente com a cor verde, por ser oposta de murcho, das coisas secas, mortas, de cor marrom. Ainda é encontrado em animais como aviso de veneno, e há relação com o sagrado em diferentes culturas e religiões. A simbologia da cor verde é muito interessante, pois está intrinsecamente relacionada à natureza. Valor e poder estão interligados com significados culturais. Na China, a pedra preciosa mais valiosa é a Jade, de cor verde e no ocidente, as esmeraldas são muito apreciadas.

Qual o significado da cor verde na psicologia das cores

A lenda da caixa de Pandora diz que, após liberar os sentimentos ruins ali aprisionados, a última coisa a sair da caixa foi uma ave de cor verde chamada esperança. A ideia de a esperança ser verde se reforça porque se atrela à experiência da primavera, a esperança germina como a semente na primavera. A chegada desta estação significa renovação após um tempo de escassez, na psicologia das cores, azul do frio e inverno, da sequidão. A esperança é um sentimento de que os tempos de privação estão ficando para trás. Outro ditado diz “quanto mais duros os tempos, mais verde é a esperança”.

Da mesma forma, na psicologia das cores, o amarelo pertence ao verão assim como o verde à primavera. O verde é o crescimento, o amarelo é a floração, o que vem depois, na estação seguinte. O frescor, na psicologia das cores, é verde, tanto que perfumes na coloração verde sugerem aromas cheios leves, cheios de frescor, até cítricos.

Manipulados para agradar o sentido do olfato, os perfumes também evocam outras questões, como a ciência e desenvolvimento técnico. O verde, como cor do natural, se opõe simbolicamente ao violeta, antinatural e irrealista. O violeta, na psicologia das cores, roxo, é cor atribuída ao artificial, quase mágica

Historicamente o vermelho é a cor da nobreza, do poder monárquico e o verde, a cor da burguesia, a partir da baixa Idade Média. Nessa atribuição ainda há subdivisão: o verde claro ou o verde escuro para os burgueses mais pobres e o verde puro para a alta burguesia. Essa distinção fica evidente nas pinturas de retratos da época, caso houvesse um fundo verde, isso demonstrava que os retratados eram burgueses. 

No renascimento a ideia continuou sendo empregada. Grande exemplo é a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, datada do ano de 1503, que traja um vestido verde. Apesar de remanescer mistério sobre a origem da mulher ali retratada, esses indícios – bem como a paisagem inventada ao fundo – indicam que não era da nobreza italiana. Portanto, ficou atribuído na psicologia das cores, verde relacionado a nobreza, algo valoroso.

Quando ainda não existia televisão, a mesa de jogos era essencial em toda casa burguesa. A mesa de jogos, em torno da qual as pessoas se sentavam juntas para jogar cartas e dados, era forrada com feltro verde, pois o verde é agradável para os olhos, faz um bom contraste com as cartas e com os dados. As mesas de bilhar também são, tradicionalmente, revestidas de feltro verde. Além das justificativas para a escolha da cor relacionadas ao contraste, é fato a cor verde, na psicologia das cores, remeter à burguesia.

Fator interessante em relação a cor verde é que se modifica mais que as outras cores com a luz, dependendo de ela ser natural ou artificial. Por isso, o verde também simboliza uma cor muito mutável. Segundo Heller,

Nos acordes cromáticos, o verde, na maioria das vezes, se combina com o azul – sempre com um efeito positivo. Caso se combine com preto ou violeta, seu efeito se torna negativo.

Simbólico e abundante, o verde e seus tons são aliados na hora de conceber projetos de arquitetura, pois tem grande aplicabilidade. A seguir, veja onde aplicar a cor verde em seus projetos e como foi empregada em diferentes situações.

Onde aplicar a cor verde no projeto

Projetos residenciais - uni e multifamiliares - e institucionais recebem muito bem a cor verde em suas composições. A partir do partido projetual, materializando o conceito desenvolvido, pode-se utilizar o verde em seus diversos tons e cores complementares, como o vermelho, primária, e também secundárias e ainda terciárias, como o laranja, que na psicologia das cores é para recreação e sociabilidade.

Ícone do modernismo, a Ville Savoye é resultado de anos de estudo e dedicação de Le Corbusier, arquiteto franco-suíço, que nela conseguiu exprimir os 5 pontos que considera essenciais para edificações modernas.

Psicologia das cores verde
Fonte: Santa Mônica.

Estes conceitos permitiram tornar os elementos constitutivos do projeto independentes uns dos outros, possibilitando a maior liberdade de criação. São eles a Planta Livre (resultado da estrutura independente de pilares e vigas) a Fachada Livre (resulta igualmente da independência da estrutura), os Pilotis (sistema de pilares que elevam a edificação do chão para que seja possível transitar por debaixo dele sem interferir nas vivências do edifício), o Terraço Jardim (que transfere de forma simbólica a área permeável que a edificação ocupou no solo para a cobertura na forma de um jardim) e Janelas em fita (possibilitadas pela fachada livre, uma em sequência da outra, criando permeabilidade com o entorno).

Além da aplicação dos pontos, o que faz com que a Ville Savoye esteja neste artigo é o emprego da cor verde, em tom escuro, no revestimento das paredes externas do térreo. A explicação é simples: na psicologia das cores, verde é a cor natureza, mimetização com o entorno, a intenção do arquiteto era possibilitar e criar impressão de que os pilotis sozinhos fazem o esforço estrutural – o que não era possível, mas mimetizado pela escolha da cor ao ver a edificação na altura do olhar.

Villa Savoye em fotografia cuja perspectiva permite ver as paredes verdes no térreo.

Em oposição ao desenvolvimento tecnológico da civilização, o verde aparece como cor simbólica da natureza. Como metonímia, ir “para o verde” significa ir para o campo e é possível descrever florestas como “pulmões verdes”. Nas cidades existem “zonas”, “áreas” ou “espaços verdes”, estes regidos por leis e governados pelos departamentos do meio ambiente. Por sua vez, os gramados verdes do golfe são artificiais, resultado de ação antrópica.

Apesar de destoar da paisagem, a Lego House tem a essência do próprio brinquedo: encaixes e cores sólidas e a brincadeira com a representação do real em meio artificial. Com fachadas brancas, os blocos se diferenciam pela cor de seus pisos e alguns detalhes nos revestimentos internos. Relacionado a natureza (na psicologia das cores, verde) o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, do escritório BIG, brinca com essa analogia e utiliza elementos de lego alusivos à vegetação neste interior.

Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily, foto Iwan Baan.

Não deixando de inserir um jardim de inverno real em outro espaço do edifício, a instalação dessa árvore artificial cria ambiência para o tema da sustentabilidade, além do emprego do  tom mais utilizado nas peças. Em outro ambiente, o piso é todo verde. O efeito naturalista do verde não depende de nenhum tom especial de verde, e sim das cores que a ele são combinadas: com azul e branco – as cores do céu (na psicologia das cores, azul)– e marrom – cor da terra (na psicologia das cores, laranja escurecido com preto) – o verde se mostra absolutamente natural.

Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily, foto Iwan Baan.

Ao pensar que a cor “verde padrão” é um verde-escuro. Tido como a mais agradável das cores para ser observada por períodos longos e em relação à psicologia das cores, o verde é adotado como cor padrão para as lousas escolares. A cor também é utilizada em máquinas verde padrão, pois a padronização da cor garante que peças de substituição e novas aquisições serão incorporadas sem problemas. Em projetos industriais essa informação é relevante.

Outro exemplo são garrafas de vinho que são, em sua maioria, verdes, pois o verde-garrafa é a espécie de vidro com menor custo. Os vidros temperados têm opção de cor verde, sendo elevados a certo status nos últimos anos. A combinação de fachadas brancas com vidros verdes já está saturada, opte por aplicar outros revestimentos na busca de representar o conceito definido.

Utilizar o verde para destacar pontos-chave do projeto já é tendência. No caso da Tupper Home, em Madri, a estrutura metálica foi revelada ao ser pintada em verde-limão. Cor da agitação, tal como a energia de uma criança.

Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily.

Também nos auditórios e nas bibliotecas, os tampos das mesas podem ganhar revestimento verde. Segundo Heller:

“nos ambientes nobres usava-se couro verde, nos mais modestos usava-se feltro ou linóleo verde. Eis o ambiente burocrático das mesas verdes: os que ‘só fazem planos sentados às mesas verdes’ jamais viram a realidade de perto.” 

Portanto, os materiais também são muito relevantes quando escolher a cor verde para determinados ambientes e objetos ali especificados, pensando em aspectos de psicologia das cores e marketing.

E, claro, no projeto paisagístico, seja interno ou externo. Estude a origem das plantas - se exóticas ou não, saiba onde devem ser implantadas e sua manutenção. Seu cliente irá agradecer.

Psicologia das cores verde
Fonte: CP Paisagismo.

A partir dos comentários de onde aplicar a cor verde nos projetos – emulando ou não a natureza – são apresentados mais exemplos de projetos com a cor verde.

Exemplos de projetos com a cor verde

Quartos, salas e cozinha. Na psicologia das cores, o verde empregado nesses ambientes residenciais remetem à saúde e bem-estar.

Psicologia das cores verde
Fonte: Westwing

Já na casa Coelho Branco, reformada, os espaços internos receberam revestimentos verdes, além das esquadrias.

Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily.
Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily.

A utilização do verde para escritórios pode ser feita primordialmente com a escolha estratégica de espécimes vegetais de sombra ou meia-sombra. Porém, também é possível empregar outros recursos, como luzes artificiais, em determinados ambientes. O escritório Loona, em Minsk na Bielorrússia, projetado pelo Studio 11 apresenta ambas as situações.

Área de trabalho e foco, organização das mesas e divisão feita com madeira e vegetação: há bloqueio parcial da visão periférica com ambiência mais agradável.

Psicologia das cores verde
Fonte: ArchDaily, foto Aleksandra Kononchenko.
Psicologia das cores verde
Espaço para instigar a criatividade com luz verde. Cada espaço com sua função.Fonte: ArchDaily, foto Aleksandra Kononchenko.

Se a intenção é a camuflagem em meio a natureza, a cabana Thoreau exprime de forma plena o conceito de refúgio. Projeto do escritório cc-studio, executado em Utrecht, Países Baixos.

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Fonte: ArchDaily, foto de John Lewis Marshall.

A edificação do SESC Birigui emprega duas das dicas aqui apontadas: destaca a estrutura metálica com a cor verde, mas em um tom mais claro, que se mistura à paisagem da cidade. Projeto de 2017, do Teuba Arquitetura e Urbanismo, apresenta grande programa de necessidades que integra diferentes tons de verde para equilibrar as ações e os espaços.

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Estrutura metálica, incluindo guarda-corpo das rampas de acesso. Fonte: ArchDaily, foto Nelson Kon.

A edificação se mistura na paisagem. O verde, na psicologia das cores, é a mais calmante dentre todas as cores, é a cor do sentimento de estar em segurança. Azul e verde é também combinação representativa da descontração.

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Fonte: ArchDaily, foto Felipe Inácio.

Abundante na natureza, o verde é a cor que equaliza as demais. Em hospitais, em composições de diferentes cores, tem seu papel de intermediário. Porém, o pintor Mondrian detestava o verde, pois considerava-o uma cor supérflua. Por isso a cor verde não é jamais vista nos quadros construtivistas de Mondrian, que trabalhava sempre com cores primárias, além do preto, branco e cinza. 

Ou seja, apesar de ser muito abrangente, deve-se consultar clientes sempre para entender como é melhor empregá-la em seus projetos: se restringido a vegetação, em pontos de cor ou como cor dominante. O importante é relacionar bem os tons e as demais cores – primárias, secundárias ou terciárias – lembrando que, na psicologia das cores, verde é a quintessência da vida.

Até a próxima,

Equipe Vobi.

Referências:

ArchDaily

CP Paisagismo (https://cppaisagismo.com.br/afinal-quando-e-por-que-contratar-um-paisagista/)

HELLER, Eva. Psicologia das Cores. Olhares: São Paulo, 2021.

Westwing

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