A arquitetura sustentável é um dos principais temas em discussão no setor da construção civil atual. Isso porque a indústria construtora é responsável pela maior parte dos impactos ambientais no mundo inteiro, logo, ela possui responsabilidade com a reparação de danos e com o desenvolvimento sustentável. Mas o que significa projetar uma arquitetura sustentável? Com o mercado e a sociedade cada vez mais sensíveis e exigentes ao tema, não é incomum notar arquiteturas que se passam por “verdes” para satisfazer a demanda do discurso.
É o chamado “greenwashing”, onde elementos e técnicas são utilizados como “maquiagem” para edifícios não sustentáveis. Essa prática é a prova de que o arquiteto não entendeu a sua responsabilidade, bem como a magnitude do impacto benéfico que a prática correta da sustentabilidade na arquitetura, cerne da construção civil, pode trazer para o meio. Para projetar uma arquitetura realmente sustentável é necessário entender o seu conceito e os seus princípios. Acompanhe o conteúdo através dos tópicos:
Aproveite a leitura!
O que é sustentabilidade?
A arquitetura sustentável é apenas uma parte da disciplina de sustentabilidade, a qual também abrange, além do meio ambiente, conceitos econômicos e sociais. As preocupações ambientais passam a interferir no modelo de crescimento econômico em 1972, com a declaração de Estocolmo, quando se reconhece que a capacidade do ser humano de modificar o seu meio pode trazer benefícios para todos, mas ao mesmo tempo possui forte caráter destrutivo e, portanto, precisa ser bem direcionada.
Também se toma consciência da realidade de muitos países subdesenvolvidos, onde a necessidade por condições básicas de vida, como alimento, água, educação, saúde e saneamento são precárias. Nesse contexto social, o interesse em suprir as necessidades básicas é mais urgente que a sustentabilidade, e deve-se conciliar as prioridades desses países com as demandas do desenvolvimento sustentável.
Posteriormente, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Brundtland - Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - a qual tratou de metas, cooperação de países, caminhos e ideias para garantir a sustentabilidade em todos os seus âmbitos - ambiental, econômico e social. Foi nessa comissão que se definiu o termo desenvolvimento sustentável, considerado até os dias de hoje:
O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades.
O que é arquitetura sustentável?
No geral, a arquitetura sustentável é aquela que busca reduzir o impacto ambiental, otimizando o uso de recursos e reduzindo resíduos, a fim de trazer conforto e bem estar para os usuários, em processos economicamente viáveis. A Comissão de Brundtland define a arquitetura sustentável em um conceito semelhante ao da própria sustentabilidade:
“toda construção concebida com o propósito primordial de ordenar o espaço para determinada finalidade e com determinada intenção, e que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades.”
Apesar da definição da ONU, o conceito da arquitetura sustentável ainda é um tema em debate e pode apresentar diferentes perspectivas dependendo dos contextos sócio-culturais. Por exemplo, na Europa a sustentabilidade de edificações está atrelada às questões bioclimáticas e soluções passivas para melhoria do conforto e qualidade. Logo, ela está associada aos conceitos de eficiência energética e utiliza tecnologia de ponta. Nessa arquitetura, o uso de materiais reciclados pode resultar em gastos ainda maiores de energia com condicionamento de ar, não sendo conveniente para o propósito final.
Uma edificação classificada como sustentável na Europa está mais diretamente ligada ao fato de ser uma edificação energeticamente eficiente e, portanto, incorpora mais comumente ao partido estratégias tecnológicas e estéticas que podem fazer uso de vidro, aço, polímeros, entre outros, desde que as soluções de projeto promovam baixo consumo energético.
No Brasil, a arquitetura sustentável está relacionada à racionalização dos canteiros de obra, o uso da água e a escolha dos materiais. Os materiais devem ser locais, com baixa energia embutida - energia necessária para a fabricação, beneficiamento e transporte - e de rápida biodegradação. Nessa abordagem, a sustentabilidade brasileira está associada ao resgate da arquitetura vernacular e à bioconstrução. O uso da água se traduz no reaproveitamento de águas servidas e águas pluviais.
Nas edificações consideradas sustentáveis no Brasil predominam as caraterísticas estéticas marcadas pelo retorno de uma arquitetura realmente pré-industrial, com soluções arquitetônicas tradicionais e materiais 'orgânicos' com o amplo uso de madeira, bambu e terra. Além disso, este ainda é um movimento que predomina nas construções habitacionais e ainda está em processo de incorporação no setor comercial, estimulado pela implantação do programa de etiquetagem de edificações do PROCEL/Inmetro e programas de certificação como o LEED.
Apesar das distintas abordagens, é provável que essas visões se integrem cada vez mais, beneficiando a concepção da arquitetura sustentável em nível global. Assim como os arquitetos europeus buscam novos meios de incorporar a sustentabilidade em suas edificações, considerando o uso de materiais locais e de baixa energia embutida, por exemplo, o Brasil tende a implementar cada vez mais soluções tecnológicas na sua arquitetura.
A história da arquitetura sustentável
A história da arquitetura sustentável começa com a Revolução Industrial, no século XIX, onde os ciclos naturais das construções são rompidos, dando espaço à produção em larga escala, a qual consome grandes porções dos recursos naturais e gera muitos poluentes. Somente depois de um século, com a crise do petróleo nos anos 70, que a humanidade começa a entender os verdadeiros impactos ambientais causados pela Revolução Industrial e o crescimento desordenado das cidades.
Nesse contexto, a ONU organiza a Conferência de Estocolmo, em 1972, a qual vai traçar os primeiros pensamentos acerca de um desenvolvimento social e econômico que consideram o uso de recursos naturais de forma responsável. Nesse cenário surge o conceito de arquitetura solar, a qual ainda não tem grande preocupação com a concepção do conforto, mas visa a redução de gastos de energia, tendo em vista que a influência do padrão internacional da arquitetura moderna dessa época promovia panos de vidro nas fachadas, o que resultava em altos gastos com a climatização artificial.
Em 1987 a ONU, através da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Comissão Brundtland - se reuniu e apresentou a definição do desenvolvimento sustentável e trouxe o relatório “Our Common Future”, o qual trazia diretrizes que os estados deveriam adotar. Nesse contexto, o conceito arquitetônico evolui para arquitetura bioclimática, que passa a considerar a eficiência energética e o conforto térmico das edificações.
Os anos 90 se seguiram com muitas conferências ambientais, como a Rio-92 ou ECO-92, que resultou na elaboração da Agenda 21, a qual aborda de diversas questões como padrões de consumo e combate ao desflorestamento. Diversas conferências parciais se sucederam, dando origem ao Protocolo de Kyoto, que trata do controle da emissão de gases de efeito estufa. Essas conferências trouxeram o termo arquitetura ecoeficiente, o qual traduz a alta qualidade ambiental de uma edificação. É nesse contexto que surgem as primeiras certificações internacionais, como o selo LEED e BREEAM.
Em 2002 ocorreu a Rio +10 em Joanesburgo e em 2012 a Rio+20, novamente no Rio de Janeiro. É nesse contexto que ocorre a consolidação do termo arquitetura sustentável, englobando conceitos ambientais (minimizar impactos ambientais, reduzir resíduos e proteger e conservar o meio), econômicos (crescimento e lucratividade com uso eficiente dos recursos) e sociais (atender as necessidades de todos os envolvidos na obra, durante todo o seu processo). Aqui aparecem as primeiras certificações nacionais, como o Procel Edifica e o AQUA.
Importância da arquitetura sustentável
Pensar em uma arquitetura sustentável é um dever de todo arquiteto. Isso porque a construção civil é o setor responsável pela maior parte dos impactos ambientais globais. As edificações são responsáveis por 40% do consumo de energia do mundo, além de ser a indústria que consome mais recursos naturais do planeta e também a que gera mais resíduos.
Projetar uma arquitetura sustentável traz diversos benefícios para as pessoas e o meio ambiente. Entretanto, esses aspectos não devem ser vistos apenas como vantagens, mas sim como responsabilidade de todo o setor de construção, buscando a reparação e controle de danos ao participar ativamente no desenvolvimento sustentável. Dentre os benefícios da arquitetura sustentável, podemos citar:
- Emissão de gases CO2: responsáveis pelo efeito estufa, podem ser reduzidos em até 35%.
- Gastos de energia: podem ser reduzidos de 20% a 50% com soluções tecnológicas e princípios bioclimáticos. No Brasil as edificações consomem 50% de toda a energia gerada.
- Consumo de água: pode ser reduzido de 40% a 50%. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o setor é responsável pelo consumo de 20% das águas nas cidades.
- Resíduos gerados: podem ser reduzidos de 50% a 80%. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o setor gera 80 milhões de toneladas de resíduos por ano.
- Proteção do ecossistema: redução de impactos e uso inteligente dos recursos.Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o setor consome 75% dos recursos naturais.
- Conforto e bem estar dos usuários: proporciona qualidade de vida dos usuários. A aplicação dos princípios sustentáveis afeta positivamente as pessoas tanto em projetos de pequena escala, como a arquitetura de interiores, até projetos de arquitetura e urbanismo, onde além de edifícios, se pensa em cidades sustentáveis como um todo. A arquitetura sustentável tem influência direta na neuroarquitetura dos espaços.
- Investimento: trata da eficiência energética do edifício e uso inteligente da água, reduzindo os gastos financeiros futuros.
- Competitividade: com o mercado cada vez mais consciente e exigente sobre as causas sustentáveis, projetos certificados tendem a se destacar da concorrência.
Os princípios da arquitetura sustentável
A seguir vamos listar os princípios da arquitetura sustentável, considerando tanto o conforto quanto a eficiência da edificação.
Análise do entorno
As construções possuem relação íntima com o meio que estão inseridas. É necessário avaliar cuidadosamente todas as variáveis existentes para que o projeto cause o mínimo impacto no local da construção. O projeto da arquitetura sustentável deve considerar o entorno, integrando-a ao meio e respeitando as condições geológicas, o espaço e o tráfego existente. Além disso, deve prevenir a poluição do ar, do solo e de corpos hídricos.
O projeto também deve buscar valorizar os materiais e culturas locais. A execução deve causar o mínimo incômodo para a vizinhança, por meio do Estudo de Impacto da Vizinhança (EIV) e também prever os possíveis impactos que a construção pode causar no futuro para o meio ambiente, através do Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
Uso sustentável do terreno
A arquitetura sustentável dá preferência para terrenos que já possuam infraestrutura existente, pois isso evita o espraiamento dos sistemas de serviços urbanos, como eletricidade, água, esgotamento sanitário, transporte público e equipamentos urbanos. O projeto também deve causar alterações mínimas no microclima buscando ao máximo manter as características do solo e vegetação, utilizando espécies nativas ou adaptadas no paisagismo.
Também é necessário considerar o ciclo hidrológico do terreno. A edificação deve ter a mínima projeção possível, buscando a maximização das áreas verdes. No caso de grandes áreas pavimentadas, procurar utilizar blocos especiais que permitam a permeabilidade do terreno, reduzindo os efeitos da ilha de calor e considerando a gestão de águas pluviais.
Planejamento detalhado e integrado
O produto arquitetônico é resultado de uma ação multidisciplinar. Isso significa que o sucesso de um projeto de arquitetura depende do trabalho de diversas áreas, como engenharia, elétrica, hidráulica, luminotécnica, automação, interiores, paisagismo, gestão, dentre muitos outros. A concepção de uma arquitetura sustentável depende da cooperação de todos esses setores, onde as metas de sustentabilidade são definidas em conjunto, ainda na concepção do projeto.
Para a colaboração interdisciplinar, é fundamental que a comunicação entre os diversos setores seja eficiente, possibilitando a integração e compatibilização dos projetos com excelência. Geralmente os escritórios de arquitetura utilizam as ferramentas de modelagem BIM (Building Information Model) facilitando a troca de informações e ajustes entre os projetos complementares.
Adaptação às condições climáticas com desenho bioclimático
A arquitetura sustentável considera as condicionantes climáticas como insolação, ventos predominantes, índices pluviométricos, temperaturas médias, etc. A partir disso é possível determinar o que o projeto precisa em questões de conforto e eficiência, e então avaliar como o entorno pode favorecer esses aspectos, através de estratégias passivas. As necessidades e estratégias vão variar de acordo com o clima local. O Brasil possui 8 zonas bioclimáticas, cada uma com suas respectivas diretrizes, porém no geral podemos entender o desenho bioclimático para a arquitetura brasileira a partir de três climas principais:
Clima Frio
- Proximidade entre edificações;
- Telhados de inclinação média;
- Estruturas elevadas do chão;
- Uso de materiais de baixa emissividade térmica;
- Paredes espessas;
- Fachadas com aberturas amplas nas faces que recebem o Sol no inverno.
Clima quente e seco
- Proximidade entre edificações;
- Telhados planos;
- Estruturas diretamente sobre o solo;
- Uso de materiais pesados;
- Paredes espessas (alta inércia térmica);
- Fachadas em cores claras e com aberturas pequenas;
- Pátios internos com fontes ou espelhos d’água;
- Evitar ventilação no caso dos ventos carregarem poeira.
Clima quente e úmido
- Edificações afastadas umas das outras;
- Telhado com grande inclinação;
- Beirais e varandas;
- Estruturas elevadas do chão;
- Uso de materiais leves;
- Paredes de pouca espessura (baixa inércia térmica);
- Fachadas com aberturas que permitam ventilação cruzada;
- Vegetação que sombreia sem impedir os ventos.
Atender as necessidades dos usuários
Considerando todo o ciclo de vida da edificação, o projetista deve cogitar a possível mudança de uso do edifício, portanto é necessário que os espaços sejam flexíveis e admitam adaptações. Além disso, a arquitetura sustentável deve respeitar os princípios da acessibilidade universal e da ergonomia.
Atender as normas e legislações
Esse aspecto diz respeito às normas brasileiras da construção civil, ou seja, as NBRs que se enquadram dentro do setor de arquitetura, engenharia e projetos complementares. Também trata das Normas Reguladoras, as NRs, que regularizam e protegem os trabalhadores, pois a sustentabilidade está diretamente relacionada à responsabilidade social. O Brasil também possui uma série de NBRs de desempenho térmico e lumínico que podem guiar a projetação da arquitetura sustentável.
Eficiência energética
Como já mencionado, a arquitetura sustentável utiliza o desenho bioclimático para conceber estratégias passivas que garantem o conforto e eficiência energética da edificação, buscando a redução dos gastos de energia a partir do uso inteligente dos recursos naturais e do auxílio tecnológico. Essas estratégias podem ser simuladas por softwares específicos, que permitem avaliar o desempenho antes do edifício antes da sua construção.
O projeto deve otimizar a iluminação natural, combinando-a com a artificial, trazendo qualidade lumínica para os ambientes e economizando os gastos com energia. Os sistemas artificiais podem contar com automação e sensores, que permitem a coordenação precisa com a iluminação natural. Além disso, é necessário considerar as fontes de energia limpa para suprir a demanda energética, como fontes de energia eólica ou solar, a qual sempre foi destaque para a arquitetura, desde o início dos debates sobre sustentabilidade.
Eficiência hídrica
A crise hídrica é um problema que já afetou grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, resultando no racionamento da água em temporadas de pouca chuva, onde as reservas ficam abaixo dos níveis seguros, além de ser um problema recorrente em interiores do Norte e Nordeste. Por isso, a arquitetura sustentável deve considerar o reuso das águas, bem como a captação e aproveitamento das águas pluviais.
A tecnologia também pode contribuir, oferecendo dispositivos hidráulicos economizadores, como torneiras e descargas inteligentes. Também é necessário adotar sistemas para a redução do volume e tratamento do esgoto, bem como monitorar a infraestrutura, identificando possíveis falhas e vazamentos.
Uso racional dos materiais
Como vimos anteriormente, o setor da construção civil é o que mais consome os recursos naturais, além de ser o que gera mais resíduos. O uso racional dos materiais visa responder a esse cenário, através da aplicação de materiais locais com baixa energia embutida, madeiras certificadas e componentes reciclados. Para reduzir os resíduos é interessante reutilizar os materiais sempre que possível e considerar o uso de materiais pré-fabricados, que reduzem os desperdícios.
Existe um acervo extenso e muito interessante de materiais que auxiliam no desenvolvimento da arquitetura sustentável, como por exemplo: blocos de adobe, blocos de entulho, bioconcreto, madeira manufaturada, tinta ecológica (sem composto orgânico voláteis - COVs), isolamentos ecológicos, dentre muitos outros.
Uso de tecnologia inovadoras
Mencionado no tópico de eficiência energética, o uso de tecnologia está atrelado aos sistemas de automação e controle, porém nesse tópico ele considera a integração com a internet das coisas e inteligência artificial, de modo que o processo de construção seja cada vez mais inteligente e eficiente. O uso de tecnologia deve ser aplicado sempre que for viável economicamente, otimizando processos, antecipando problemas e viabilizando a discriminação de soluções.
Paisagismo sustentável
O paisagismo da arquitetura brasileira tende a copiar os estilos estrangeiros. Isso é problemático porque, além de estarmos deixando de lado uma enorme biodiversidade e a nossa identidade cultural, a flora estrangeira não atende aos propósitos do clima tropical. É necessário resgatar o uso de espécies nativas e adaptáveis, que vão proporcionar o conforto adequado ao nosso clima e proteger a biodiversidade nacional.
A vegetação deve ser utilizada a favor da eficiência energética e do conforto das edificações e das cidades, proporcionando sombra, direcionando ventos, retendo poeira, amenizando a temperatura interna, dentre várias outras funções. A arquitetura sustentável faz o uso extensivo da vegetação nos espaços internos, externos e na própria envoltória dos edifícios, através de paredes e telhados verdes.
Saúde e bem-estar dos usuários
Além de um bom desempenho, a arquitetura sustentável deve proporcionar ambientes internos acolhedores, agradáveis e confortáveis para os usuários. Para isso, deve considerar o conforto térmico, lumínico e sonoro, a renovação e qualidade do ar, especificar materiais com baixo nível de composto voláteis e se preocupar com a neuroarquitetura e ergonomia dos ambientes.
Viabilidade econômica
Como visto anteriormente, a sustentabilidade tem por base três pilares: o ambiental, o social e o econômico. Os fatores citados até agora consideram os aspectos ambientais e sociais, mas não podemos esquecer da viabilidade econômica dos projetos. É necessário estudar os ciclos de vida das edificações e analisar o retorno financeiro dos investimentos em estratégias e equipamentos adotados. A arquitetura sustentável deve aumentar o valor agregado da edificação e reduzir os custos de operação e manutenção.
Análise do ciclo de vida
Considera desde a extração das matérias-primas até a construção, operação, manutenção e demolição. Essa visão global do ciclo de vida do edifício permite a análise da energia incorporada, possibilitando a otimização do emprego de recursos em cada fase do ciclo. No geral, a arquitetura sustentável deve projetar a edificação para ser duradoura, com o mínimo impacto ambiental, visando a gestão sustentável da operação, bem como o reuso e reciclagem pós demolição.
Promover a conscientização
A arquitetura sustentável é uma grande “escola de sustentabilidade” para seus usuários, gerando um sentimento de admiração e inspiração na comunidade. Ao implantar um edifício sustentável, é necessário conscientizar as pessoas sobre a causa, bem como ensiná-las a utilizar o edifício, orientando acerca do uso racional da água e da energia, esclarecendo o funcionamento de dispositivos tecnológicos ou mesmo manuais, como o posicionamento de brises móveis e mudanças de layout de acordo com as estações, se for o caso.
Exemplos de arquitetura sustentável
Quando falamos em arquitetura sustentável, as imagens evocadas pelo imaginário coletivo podem ser muito diversas. Isso porque a sustentabilidade pode ser aplicada a vários estilos arquitetônicos, como arquitetura moderna, arquitetura gótica, arquitetura contemporânea, etc. Além disso, o próprio conceito possui vertentes distintas que vão levar a estéticas totalmente diferentes.
Como mencionado anteriormente, enquanto a arquitetura européia apresenta uma aparência high-tech, utilizando de materiais industrializados, a arquitetura brasileira tende a seguir pelo uso de materiais locais, configurando uma estética de bioconstrução, mas isso não significa que um conceito exclui o outro. A seguir, vamos exemplos de ambas as estéticas.
Academia de Ciências da Califórnia | Renzo Piano
Localizada em São Francisco na Califórnia, a Academia de Ciências projetada por Renzo Piano possui o selo LEED Platinum, o maior da categoria de certificação LEED, além de já ter sido considerada a edificação pública mais sustentável do mundo. O primeiro aspecto a ser sublinhado é o revestimento em vidros, os quais possuem menos ferro, possibilitando uma vista mais clara do entorno e garantindo ampla iluminação natural, economizando até 90% de energia elétrica.
A construção também conta com 60 mil células fotovoltaicas que geram 15% da energia consumida no edifício e aquecem a água, a qual é utilizada para aquecimento dos ambientes internos, através de dutos nos pisos, reduzindo os custos com a climatização. Além disso, o isolamento térmico contou com reuso de calças jeans, o qual é composto por algodão grosso capaz de reter calor, absorver o som, evitar o mofo e retardar o fogo.
O teto verde é coberto de plantas nativas, plantadas em recipientes de fibra de coco projetados. O telhado é plano em seu perímetro e torna-se ondulado como o terreno, dando origem às cúpulas que cobrem o planetário e a exposição da floresta tropical. Essas cúpulas possuem clarabóias para ventilação e iluminação.
A academia conta com bicicletários e postos de abastecimento para carros elétricos. Em relação aos materiais, 50% do aço e do concreto utilizados são reciclados e 50% da madeira é de reflorestamento. O consumo de energia é 30% menor do que o recomendado pelo código federal dos Estados Unidos. A edificação também promove exibições permanentes sobre o tema da sustentabilidade.
Mirante do Gavião Amazon Lodge | Atelier O’Reilly
Localizada a 200 km de Manaus, no município de Novo Airão, a pousada Mirante do Gavião nasceu da necessidade de integrar o fluxo de barcos do Rio Negro com as chegadas e saídas da terra. A obra durou 2 anos e empregou 60 pessoas que foram treinadas pelo mestre de obras local, e seu funcionamento conta com equipe local de 20 pessoas, destacando o fator social da sustentabilidade.
Como a população ribeirinha dominava a técnica de construção de barcos, o projeto foi pensado a partir desses saberes, projetando a pousada em formato de barco invertido, com uso de madeira de reflorestamento. Também foram considerados os saberes da arquitetura vernacular, de forma que a pousada foi projetada sobre palafitas,as quais são conectadas por decks. Essa solução favorece a circulação do ar abaixo do piso e resfria os ambientes, compondo também uma solução bioclimática.
Além do piso ventilado, os estudos bioclimáticos combinaram outras estratégias ativas e passivas para atingir o melhor desempenho energético e conforto térmico. As estratégias passivas abrangem o aproveitamento da iluminação natural, ventilação cruzada e renovação do ar, também foi considerada a insolação, índices pluviométricos e umidade relativa do ar. As soluções ativas configuram uso de painéis solares e captação e reuso de águas pluviais e aquecimento de água.
O terreno recebeu revitalização com espécies nativas, horta orgânica, além da implantação de compostagem e tratamento de efluentes. A delicada implantação sobre palafitas, juntamente com os materiais locais, geram uma estética que respeita e se adapta ao entorno. O Mirante do Gavião é um exemplo de sustentabilidade em seus três pilares: ambiental, social e econômico.
A arquitetura sustentável é o futuro das edificações, na verdade já podemos dizer que é o presente. Os seus princípios devem ser adotados cada vez mais na prática da profissão, englobando também as arquiteturas residenciais, que apesar de serem a maior parte das construções, ainda não são os alvos das certificações. O setor da construção civil deve assumir a sua responsabilidade com o desenvolvimento sustentável e é papel do arquiteto tomar a frente nessa causa tão legítima que é a sustentabilidade.
Até a próxima,
Equipe Vobi
Referências:
LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano; PEREIRA, Fernando. Eficiência Energética na Arquitetura. 3° Edição. Rio de Janeiro: Eletrobras, PROCEL, PROCEL Edifica.
ROMERO, Marta. Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano. CopyMarket, 2000.
www.vitruvius.com.br
www.tede.mackenzie.br
www.sustentarqui.com.br
www.carreiradearquiteto.com
www.caurj.gov.br
www.ca-2.com
www.imed.edu.br
www.blog.obraprimaweb.com.br
www.brasilescola.uol.com.br
www.vivadecora.com.br
www.menos1lixo.com.br
www.archdaily.com