A Ergonomia impacta tudo e a todos - mesmo que imperceptivelmente. Quer você seja um profissional da área ou não, o fato é que ter uma noção sobre o que é ergonomia e como os seus princípios podem ser aplicados no cotidiano fará com que seus projetos sejam muito mais assertivos.
Neste guia, você aprenderá sobre a definição, categorias e aplicações da ergonomia na arquitetura e como essa ciência influencia as pessoas dentro de suas casas, ambientes de trabalho e em todos os âmbitos da vida.
Aproveite a leitura!
Ergonomia é o processo de definição e adequação de espaços, produtos e sistemas a fim de atenderem às necessidades das pessoas que os utilizam.
Muitos associam a ergonomia com design de cadeiras, por exemplo - e não estão errados. Porém, a ergonomia vai muito além. Ela pode ser aplicada a qualquer coisa que implique no uso humano.
Trata-se de um ramo da ciência que busca aprender sobre as habilidades e limitações de cada indivíduo e, a partir das descobertas, aplicar o conhecimento com o objetivo de melhorar a interação das pessoas com os produtos e ambientes que as cercam.
Essa meta visa, principalmente, minimizar os riscos de acidentes e possíveis lesões que possam acontecer ao usuário. Por isso, conforme a tecnologia vem avançando, assim também deve avançar a ergonomia para garantir que as ferramentas que estão a nosso dispor tenham sido pensadas e correspondam aos requisitos do corpo humano.
A palavra “Ergonomia” é derivada da palavra grega “ergon” que significa trabalho e “nomos” que significa leis.
Apesar de serem tópicos de grande importância e conhecimento geral desde os primórdios, a ergonomia contemporânea faz uso dos dados e técnicas de diversas disciplinas relacionadas, como a biomecânica, a antropometria, a física ambiental, a psicologia aplicada e a psicologia social.
A Associação Internacional de Ergonomia se divide em três domínios de especialização: a Ergonomia Física, Cognitiva e Organizacional. Cada um desses tipos de ergonomia engloba uma área de melhoria específica.
A Ergonomia Física visa melhorias na postura, movimentos (especialmente os repetitivos), manipulação corporal, transporte de pesos pesados, distribuição de espaço, configuração dos postos de trabalho, procedimentos de segurança e saúde em geral. Esse, talvez, seja o tipo mais conhecido, pois é ele que irá avaliar se uma cadeira favorece uma postura correta, evitando lesões, por exemplo.
Já a Ergonomia Cognitiva busca melhorias relacionadas a aspectos mentais, intelectuais e psicológicos, como: desempenho, estresse profissional, carga mental, confiabilidade humana e interação homem-máquina.
A Ergonomia Organizacional tem como objetivo adaptar as condições da empresa para preservar a saúde e o bem-estar do trabalhador, promovendo melhorias na organização de processos e regulamentos operacionais, políticas da empresa, clima organizacional e cultura.
Mas, quais os tipos de ergonomia deve-se levar em conta na arquitetura e design de interiores? Por se tratarem de campos de atuação que impactam em diversos âmbitos da vida de um indivíduo (afinal, uma pessoa passa boa parte do tempo entre casa e trabalho), é importante ter sempre em mente os três conceitos e aplicá-los de maneira equilibrada.
Como já dito anteriormente, a ergonomia visa criar espaços e produtos seguros, confortáveis e que garantam produtividade ao incorporar habilidades e limitações humanas em seus designs, como por exemplo: medidas do corpo humano, força, velocidade, e sentidos (visão, audição, etc).
De acordo com um artigo da Dohrmann Consulting, - empresa especializada em segurança e ergonomia na Austrália - um estudo realizado pela Safe Work indica que o gasto referente a lesões e doenças relacionadas ao trabalho representam cerca de 60 bilhões de dólares no país. Outra pesquisa mostra que a dor lombar é a lesão relacionada ao trabalho mais comum do mundo, afetando desde profissionais que trabalham em escritórios até agricultores.
“Estima-se que doenças e acidentes do trabalho representem a perda de 4% do Produto Interno Bruto global a cada ano.”
Trazendo para o contexto do Brasil, e levando em conta o PIB de 2020, esse percentual corresponde a aproximadamente R$300 bilhões. A arquitetura e o design de interiores devem auxiliar a minimizar - ou até mesmo extinguir - situações como essa.
Um ambiente bem planejado cumprirá com uma distribuição de espaço assertiva, assegurando uma boa circulação e evitando acidentes. Além disso, se atentará às normas de conforto térmico, acústico e luminotécnico, preservando a produtividade dos usuários do local.
Um bom profissional preocupa-se em garantir a adequação do espaço ao ser humano nos mínimos detalhes: determinando a altura de bancadas e armários adequados, até definindo materiais de acordo com a função de cada cômodo. Afinal, um piso com acabamento polido dentro de um banheiro pode ser bastante perigoso, não é mesmo? Esta, portanto, é a grande importância da ergonomia na arquitetura.
Além de conferir mais segurança e bem-estar às pessoas, a ergonomia na arquitetura aplicada, também contribui economicamente à sociedade. Os custos advindos de acidentes, doenças e lesões, ocasionadas no trabalho, se manifestam em gastos para o sistema de saúde, seguro social e em uma enorme redução de produtividade derivada de dias perdidos de trabalho. Sem mencionar o fato de que muitas dessas lesões acarretam em perda de funcionalidade e dificuldade de movimentos, trazendo impactos para a vida profissional e pessoal do trabalhador.
Outro ponto a ser levado em conta é que a população mundial está envelhecendo. Um relatório do The World Population Prospects 2019, da Organização das Nações Unidas (ONU) diz que até 2050, uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos (16%).
E o que fazer diante desta realidade? É preciso reconhecer a importância da ergonomia na arquitetura e todos os outros setores, permitindo que o produto se adapte ao cliente, o ambiente ao usuário e o trabalho ao trabalhador.
Neste artigo, falamos sobre os tipos de ergonomia, a ergonomia na arquitetura e no trabalho, porém e quando esses dois universos se juntam? Casa + trabalho = Home Office.
Com o advento da pandemia e o distanciamento social, vimos surgir um crescimento exponencial do trabalho remoto. Ao se trabalhar em casa, é importante fazer ajustes, assegurando a ergonomia no Home Office, a qual auxiliará na execução do trabalho em sua máxima eficiência, sem riscos de lesão.
Independentemente do espaço utilizado para o trabalho remoto, é importante estabelecer uma área da casa para classificar como espaço de trabalho. Ter um local específico, além de facilitar a divisão psicológica trabalho x descanso, irá ajudar a manter o ambiente sempre com as adaptações ergonômicas em dia, garantindo produtividade, foco e conforto.
Para saber mais em detalhes quais as dicas e melhores práticas, basta ler nosso artigo completo sobre ergonomia no Home Office.
Fato: A história da Ergonomia origina-se de pesquisas científicas militares.
Para comprovar, vamos analisar sua linha do tempo:
1857: A palavra “ergonomia” é publicada, pela primeira vez, em um artigo escrito por Polish Prof. Wojciech, na Polônia.
1921: No Japão, Gito Terouka publica uma pesquisa sobre ergonomia após conhecer o Instituto de Ciência e Trabalho Kurashiki. No mesmo ano, pesquisadores russos participam da primeira conferência sobre Organização Científica do Trabalho e defendem uma abordagem que visa ambos: máxima eficiência e minimização de riscos de segurança, propondo a melhoria da saúde dos trabalhadores.
1943: Durante a segunda guerra mundial, observou-se que, mesmo com pilotos bem treinados, as aeronaves super funcionais continuavam colidindo. O erro humano foi reduzido ao redesenharem o painel de controle, após uma análise psicológica e de engenharia - a capacidade humana (ergonomia!) sendo o impulsor.
1947: Hywel Murrell, químico graduado e futuro professor de psicologia, foi indicado a liderar a Unidade de Estudo UK Royal Navy Motion. Hywell comandou um time interdisciplinar que estudava os movimentos que envolviam a manipulação de artilharia e munição, bem como o layout dos equipamentos.
1949: Murrell convidou um grupo de cientistas renomados para o Ministério da Marinha onde formaram a Sociedade de Pesquisa Humana, com o intuito de realizar encontros científicos a fim de debater as pesquisas realizadas. Neste mesmo ano, Murrell propõe, oficialmente, o nome “Ergonomia” como o termo definitivo do seu campo de pesquisa. O nome só foi aceito em 1950.
1951: Murrell inaugurou seu primeiro departamento de ergonomia para a indústria Britânica.
1953: A EPA (Agência de Produtividade Européia) começou a implementar a ergonomia na produtividade dos trabalhadores.
1957: A Sociedade de Ergonomia dos Estados Unidos (United States Human Factors Society) foi fundada. A ergonomia na engenharia é enfatizada pelos militares estadunidenses com foco na interação do ser humano em meio a sistemas complexos. Na Grã-Bretanha, o escritório Taylor & Francis começou a publicar o “Diário da Ergonomia”.
2. A Ergonomia é a ciência da crença
Fato: Diversos estudos científicos comprovam a eficiência da ergonomia.
A Ergonomia é analisada sob um contexto. Por este motivo, a maioria das pesquisas são realizadas em campo ao invés de laboratórios. Apesar de produzir diversas variáveis difíceis de serem controladas, por outro lado, proporciona percepções e resultados mais realistas. Abaixo constam três exemplos de pesquisas com grandes amostragens:
3. Ergonomia diz respeito apenas a móveis de escritório
Fato: A Ergonomia pode não ser o campo mais conhecido, no entanto ela se encontra em todo lugar.
Embora a ergonomia seja frequentemente associada ao design de escritório e relacionada a problemas de fabricação, saúde e transporte - todas as grandes marcas como HP, Apple e Ford abraçam a ergonomia. Você se lembra dos celulares pesados antes do iPhone? E quanto aos carros com bancos corridos desconfortáveis, enormes pontos cegos e portas difíceis de abrir?
Esses são apenas alguns dos campos em que os ergonomistas tornaram nossas vidas mais fáceis por meio de uma abordagem centrada no ser humano. Hoje, existem mais de 60 padrões de ergonomia ISO em vários aspectos de projetos, produtos e sistemas, todos com o objetivo de melhorar o desempenho, conforto e segurança, bem como prevenir erros e lesões.
Concluindo, entender a ergonomia é o primeiro passo para se obter um ambiente funcional. Não dar a devida importância na escolha do mobiliário, além da sua disposição correta dentro de um ambiente, como por exemplo um móvel com altura inadequada, pode causar desconforto e até lesões físicas ao usuário. A ergonomia na arquitetura e no design de interiores devem ser trabalhadas em parceria, proporcionando através de suas técnicas o conforto e o bem-estar daqueles que usufruem do espaço.
Vale ressaltar que não existem regras fixas. Por isso, é necessário um profissional capacitado que adeque o projeto de acordo com o estilo de vida de cada pessoa, a partir de acompanhamento de hábitos e conversas a respeito dos anseios sobre tempo e espaço.
Sabemos que, depois de um tempo, saber as medidas ergonômicas ideais para cada ambiente na hora de desenvolver um projeto de arquitetura ou design de interiores fica quase automático. Mas, existem tantos tipos de ergonomia que, para te ajudar com aquelas medidas que você ainda não sabe decoradas ou precisa tirar a dúvida na hora do projeto executivo, fizemos uma curadoria e organizamos aqui um guia de ergonomia para arquitetura, com exemplos mais utilizados no dia a dia dos arquitetos e designers de interiores.