A pandemia da COVID-19 levou ao isolamento e permanência prolongada das residências, colocando-as em um papel ainda mais importante na sociedade. Os espaços internos passam a assumir novas funções e prioridades, como por exemplo a flexibilidade dos ambientes e a valorização da saúde física e mental dos usuários.
Um estudo realizado pelo Royal Institute of British Architects (RIBA) mostrou que 70% das pessoas acreditam que o design das residências tem impacto no bem estar dos usuários durante o isolamento.
O RIBA também aponta que 23% dos entrevistados acreditam que um bom projeto de residências pode aumentar a felicidade. Esse número é relativamente baixo quando consideramos que a arquitetura possui muita influência em como nos sentimos, podendo induzir comportamentos e humores.
É necessário que a arquitetura acompanhe e responda essa nova demanda de forma criativa e funcional, bem como conscientize as pessoas da importância de um bom projeto. Confira a seguir as principais características das residências pós-pandemia.
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Zona de Transição
O hall de entrada das casas passa a funcionar como uma área de descontaminação, mantendo os ambientes internos limpos e seguros. Para isso, o espaço de transição deve ser delimitado e separado dos demais ambientes internos, proporcionando a higienização das mãos com álcool em gel e acesso às máscaras. Além disso, deve propiciar ações como trocar os sapatos, pendurar casacos e guardar chaves e bolsas, para evitar que esses objetos entrem na casa.
O hall de entrada deixou de ser um espaço apenas de passagem e assumiu o papel de cantinho da higienização. Objetos como mesas de apoio, banquinhos, sapateiras, cabideiros e ganchos para máscara passaram a fazer parte desse espaço e vão continuar por muito tempo.
Esse espaço de transição é muito útil, mesmo em um contexto não pandêmico, pois facilita a entrada e saída de casa com a organização dos principais itens nessas áreas. Esse conceito já é muito comum em países asiáticos que, geralmente, fazem a separação do hall de entrada com os ambientes internos através de um degrau.
Layout Flexível
Com a pandemia, os ambientes internos passaram a abrigar diversas funções. Um mesmo espaço possui atividades distintas e específicas de acordo com o horário e o dia, por exemplo: trabalho, exercício físico, meditação, lazer, convivência, leitura, cochilo, dentre muitas outras. A mesma metragem quadrada agora é muito mais solicitada, exigindo um alto nível de adaptação e flexibilidade. Isso é um desafio para arquitetos e designers, que precisam conceber soluções criativas e funcionais de acordo com o programa de necessidade apresentado.
Diante desse contexto, muitos arquitetos estão defendendo a ideia de que faz sentido desenhar um projeto de acordo com as atividades que acontecem na casa e adaptar os ambientes. Para tornar os espaços mais flexíveis, é indicado o uso de divisórias de ambientes como painéis que deslizam, móveis com rodízio ou dobráveis, iluminação flexível, biombos, entre outros.
A flexibilidade dos ambientes também deve promover a privacidade, pois essa é uma característica essencial para ambientes de trabalho e estudo. É necessário garantir o silêncio para videoconferências e redução das distrações provindas das demais atividades ocorrendo na casa. Painéis e portas que permitam isolar certos ambientes são interessantes, podem trazer isolamento acústico e até mesmo visual, dependendo da demanda.
Delimitar bem as áreas do imóvel não implica uma compartimentação rígida dos ambientes. É possível criar soluções flexíveis, fazendo com que alguns locais da casa sejam multifuncionais ou adotando soluções que permitam dividir ambientes em ocasiões específicas.
Cozinha e Convivência
Cozinhas amplas e planejadas, bem como o conceito aberto e integração das salas de jantar e estar não são novidade. Essa configuração da cozinha contemporânea se mantém nas residências pós-pandemia. O que se observa de novidade é a valorização das despensas, visto que as pessoas estão optando por estocar os mantimentos e reduzir as idas ao mercado. Também ocorre a valorização da convivência nessas áreas, proporcionando locais mais confortáveis e que induzam a permanência.
As refeições compartilhadas estão se tornando cada vez mais populares, pois temos passado mais tempo de qualidade com a família juntos. Ter mais pessoas ao redor da mesa de jantar à noite pode exigir uma cozinha e uma área de jantar maiores.
Home Office
Um dos ambientes de destaque nas residências pós-pandêmia é o Home Office. No início do isolamento as pessoas converteram mesas de jantar em escritórios improvisados, quando esse modelo de trabalho ainda era algo temporário. Porém, o trabalho em casa não é mais algo provisório, um estudo realizado pela consultoria Cushman & Wakefield aponta que 73,8% das empresas pretendem manter o Home Office, mesmo após o fim da pandemia. Isso significa que as novas residências precisam estar devidamente equipadas para essa nova demanda.
O espaço deve garantir o conforto e contribuir para o desempenho das tarefas. Para isso, biombos, divisores de espaços, móveis ergonômicos, janelas para permitir a entrada de luz natural, a ventilação e o descanso para os olhos são itens indispensáveis para uma estação de trabalho perfeita.
Saúde Física
A preocupação com o bem estar físico e mental ganha destaque em todos os aspectos da vida contemporânea e com o design de residências não é diferente. Muitas pessoas se viram privadas de exercer atividade físicas e começaram a improvisar espaços para musculação, ginástica, pilates, dentre outras práticas, dentro de suas casas. Esses espaços tendem a ser consolidados nas novas residências, desde delimitação flexível para a prática de exercícios até academias residenciais.
Mesmo quem era sedentário viu na prática de atividades físicas uma forma de aliviar a ansiedade que o momento causa e melhorar sua qualidade de vida. Para manter o distanciamento e entrando na onda de ter orientações online para os exercícios, as pessoas passaram a se exercitar em casa.
Saúde Mental
Assim como a saúde física, a saúde mental também é uma prioridade. Observa-se uma crescente em cantinhos de relaxamento e áreas de meditação, equipados com mobiliário confortável e atmosfera de tranquilidade. Praticamente todos os ambientes têm impacto na percepção e bem estar do usuário, de forma que muitos espaços foram adaptados para proporcionar experiências mais prazerosas e relaxantes - é o caso dos banheiros SPA e valorização de áreas externas - ou criados para suprir necessidades de lazer e outras atividades que favorecem a saúde. Ambos os casos serão abordados nos tópicos seguintes.
Lazer
Devido ao isolamento, muitas pessoas ficaram privadas da maior parte de opções de lazer. Cinemas, parques, bares e muitos outros estabelecimentos são interditados. Práticas de hobbies e cursos presenciais também são interrompidos, limitando o lazer a pequenas telas e eventos familiares reduzidos.
As casas pós-pandemia não pretendem substituir o lazer das ruas, até porque o contato social é fundamental para a saúde, mas sim diversificar as opções de lazer dentro de casa, proporcionando ambientes devidamente equipados. São espaços como bibliotecas, salas de pintura e cantinhos personalizados que passam a integrar o programa de necessidades das novas residências.
A arquitetura pós-pandemia incorpora tendências como salas infantis ou de jogos em projetos residenciais. Outro destaque são as soluções voltadas para entretenimento audiovisual, com sistemas que permitem criar uma sala de cinema em casa.
Banheiro SPA
Ainda com foco na saúde física e mental, os banheiros assumem um caráter de SPA, onde a experiência do banho possui uma função terapêutica e as pessoas utilizam esse momento para relaxamento e cura. Inspirado nos rituais de banho orientais, esse ambiente separa o chuveiro da banheira. Primeiro utiliza-se o chuveiro para banho e depois a banheira para relaxar. Esses ambientes tendem a ser bastante requisitados nas novas residências, trazendo texturas naturais, vegetação , aromas e sons tranquilizantes e iluminação adequada para a ambientação.
Área Externa
O contato com a natureza é essencial para o bem estar físico e mental, e isso ficou bem claro durante a pandemia. O design biofílico é uma das principais tendências para as novas residências, buscando a integração de áreas internas e externas, bem como o uso funcional das áreas ao ar livre, com layouts e mobiliários que facilitem e incentivem a prática de certas atividades na área externa, como prática de exercícios e café da tarde, por exemplo.
Caberá aos arquitetos trabalhar a forma de integrar o exterior mesmo nas casas mais compactas, experimentando jardins no telhado, micro quintais, alpendres e varandas. As pessoas também podem buscar uma conexão mais estreita entre seus espaços de vida e o mundo natural, com portas de vidro dobráveis que unem essas duas zonas.
A arquitetura e urbanismo refletem os pensamentos, ideais e rotinas de suas sociedades. Diversos eventos históricos causaram uma mudança no conceito de morar, trazendo alterações no design de residências de acordo com as novas necessidades.
Dessa vez, a COVID-19 resultou na valorização e flexibilidade de espaços internos, visando o bem estar físico e mental dos usuários. É importante que o arquiteto esteja atento a essas mudanças, concebendo soluções funcionais, criativas e coerentes com esse novo contexto.
Até a próxima,
Equipe Vobi
Referências:
www.urbanistarchitecture.co.uk
www.makearchitects.com
www.architizer.com
www.biancogres.com.br
www.vipdoor.com.br
www.vivadecora.com.br